4.1. Deficit em saneamento básico. Página 2
Abastecimento de água
A situação da cobertura, para a população brasileira, segundo as formas de abastecimento de água é indicada na Figura 4.2.
Fonte: Censo Demográfico (IBGE, 2011).
FIGURA 4.2: Situação da cobertura segundo formas de abastecimento de água no País, 2010 (proporção da população)
A distribuição proporcional entre as diversas práticas adotadas para obtenção de água por domicílio em cada macrorregião do País é mostrada na Figura 4.3.
Nota-se que a região Norte é onde os domicílios, proporcionalmente, mais utilizam água proveniente de poço ou nascente com canalização interna para suprir suas necessidades, provavelmente por ter a implantação de redes dificultada pelo número de comunidades com habitações muito esparsas. As regiões Sudeste e Sul são as que exibem a maior proporção de domicílios com canalização interna ligados à rede geral.
Os sistemas de abastecimento de água utilizam de forma intensiva tanto mananciais superficiais quanto subterrâneos. Segundo o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água (ANA, 2010), do total de sedes municipais do Brasil, 47% são abastecidas exclusivamente por mananciais superficiais, 39% por águas subterrâneas e 14% pelos dois tipos de mananciais. No que se refere à produção de água, destaca-se que nas regiões Nordeste e Sudeste a maior parte da população urbana é abastecida por sistemas integrados, que fornecem água a mais de um município a partir do mesmo manancial. Esses sistemas integrados são empregados basicamente no abastecimento dos principais aglomerados urbanos do país e no atendimento de municípios do semiárido, correspondendo a 795 sedes municipais (14% do total do país) e a 78 milhões de habitantes em 2010.
Fonte: Censo Demográfico (IBGE, 2011).
FIGURA 4.3: Soluções e práticas utilizadas para abastecimento de água em proporção de domicílios por macrorregião e Brasil, 2010
Da população que conta com canalização interna no domicílio, aproximadamente 148,5 milhões de pessoas (86% dos habitantes do Brasil) são atendidas por rede de distribuição. Os outros 19 milhões consomem água canalizada de poço ou nascente. Essa situação é mostrada na Figura 4.4.
Fonte: Censo Demográfico (IBGE, 2011).
FIGURA 4.4: População residente em domicílios atendidos com canalização interna segundo as formas de abastecimento de água, Brasil, 2010
Tem-se que a população atendida por rede geral canalizada na propriedade ou terreno, por poço ou nascente, cisterna, carro-pipa ou outra forma, sem canalização interna, ou sem atendimento, é maior no Nordeste, onde cerca de 11,4 milhões de pessoas (21,5% de sua população) supriam suas necessidades hídricas de maneira inadequada em 2010. Na sequência, surge a região Norte, com 4,8 milhões de pessoas na mesma situação (31% de seus habitantes). Assim, o Nordeste possui a pior situação absoluta e o Norte, a pior situação relativa. O Sudeste, com 3,2 milhões de pessoas (4% do total de habitantes). O Sul (por volta de 1,4 milhões) e o Centro-Oeste (aproximadamente 1,6 milhões) possuem respectivamente 5 e 11% de seus habitantes vivendo em condições inadequadas de abastecimento de água. É importante lembrar que as macrorregiões do País não são geograficamente homogêneas, apresentando diversidades que devem ser consideradas nas avaliações das próximas etapas de revisão e acompanhamento da implementação do Plano, a exemplo da realidade do Nordeste, com suas diferenciações no ciclo hidrológico e fontes de abastecimento de água do litoral e do semiárido.
Avaliando-se o deficit relativo à presença de canalização interna quanto à localização dos domicílios, nota-se sua concentração – 66,4% – na área urbana, onde, aproximadamente 4,7 milhões de brasileiros não têm acesso a formas de abastecimento de água canalizadas internamente em seus domicílios, enquanto 2,4 milhões de habitantes da área rural encontram-se na mesma situação (Figura 4.5). Destaca-se que a maior parte deste deficit é relativa à população urbana atendida por rede geral sem canalização interna, 4,1 milhões de habitantes.
Fonte: Censo Demográfico (IBGE, 2011).
FIGURA 4.5: População urbana e rural residente em domicílios com ausência de canalização interna de água, segundo as diferentes formas de abastecimento - Brasil, 2010
Cerca de 14,5 milhões de habitantes possuem renda domiciliar mensal de até ½ salário mínimo por morador. Este número corresponde a aproximadamente 70% da população atendida por alguma forma de abastecimento de água, porém sem canalização interna (Figura 4.5), mais aquela parcela que não conta com atendimento por abastecimento de água (Tabela 4.2). A Figura 4.6 apresenta a situação do abastecimento de água no País em função das faixas de rendimento per capita mensal domiciliar e escolaridade.
Analisando a relação entre a escolaridade do responsável pelo domicílio e o acesso, observa-se que quanto menor o número de anos de estudo, mais vulnerável a pessoa se encontra, pela ausência de acesso a formas consideradas adequadas de abastecimento de água, como mostra a Figura 4.6. Assim, a maior parcela do deficit é formada por domicílios cujos responsáveis não possuem instrução ou possuem até um ano de estudo.
Fonte: Censo Demográfico (IBGE, 2011).
FIGURA 4.6: Situação do abastecimento de água no Brasil por faixa de rendimento per capitamensal domiciliar e por anos de estudo do responsável pelo domicílio, 2010
Quanto à garantia hídrica para o atendimento da população com acesso à rede geral, os dados do Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água[1] (ANA, 2010) apresentam as condições atuais de oferta de água para todas as sedes municipais do país, apontando que 55% destas poderão ter abastecimento deficitário até o ano de 2015, decorrente de problemas com a disponibilidade hídrica do manancial atualmente utilizado ou da capacidade instalada da produção de água.
Em relação à qualidade da prestação dos serviços no ano de 2010, conforme dados do Sisagua, aproximadamente 38 milhões de brasileiros receberam água em suas residências, proveniente de 1.046 sistemas públicos de abastecimento de água (SAA) que não atendiam plenamente ao padrão de potabilidade estabelecido pela Portaria nº 2.914/11 do MS relativo ao parâmetro coliformes termotolerantes. Em 2011, esse número girou em torno de 52 milhões de pessoas abastecidas, considerando os dados desconformes de 1.034 SAA (Tabela 4.3). Chegou-se a esse contingente totalizando a população atendida pelos sistemas que apresentaram, pelo menos, uma não conformidade com o estabelecido pela referida Portaria nas análises realizadas para o ano de referência.
TABELA 4.3: Situação dos sistemas de abastecimento de água registrados no Sisagua por macrorregião, segundo a desconformidade em relação a coliformes termotolerantes, 2010/2011
REGIÃO |
2010 |
2011 |
||||
SAA registrados (1) |
SAA não conformes (2) |
População atendida (3) |
SAA registrados (1) |
SAA não conformes (2) |
População atendida (3) |
|
Norte |
273 |
29 |
417.680 |
370 |
43 |
345.717 |
Nordeste |
1.865 |
434 |
11.924.276 |
1.843 |
397 |
9.126.298 |
Sudeste |
3.321 |
285 |
15.872.337 |
3.344 |
297 |
31.380.484 |
Sul |
2.425 |
161 |
3.893.831 |
2.040 |
152 |
5.583.722 |
Centro-Oeste |
874 |
137 |
5.838.616 |
851 |
145 |
5.915.270 |
BRASIL |
8.758 |
1.046 |
37.946.740 |
8.448 |
1.034 |
52.351.491 |
(1) Nem todos os SAA registrados informaram sobre os resultados das análises realizadas.
(2) Sistemas que apresentaram desconformidades ao padrão de coliformes termotolerantes no tratamento e na rede de distribuição em pelo menos metade das amostras.
(3) População atendida pelos SAA não conformes.
Fonte: Sisagua2010 e 2011 (Ministério da Saúde, 2013).
Observa-se que o contingente populacional atendido pelos SAA sem conformidade é significativo, principalmente no Sudeste e no Nordeste, o que indica a necessidade de atenção e adequação ao padrão de potabilidade por parte dos prestadores do serviço público de abastecimento de água.
Por outro lado, para o ano de 2010, encontram-se registrados no SNIS 19,2 milhões de domicílios atingidos com pelo menos uma intermitência no mês. As macrorregiões Norte e Nordeste registraram as maiores proporções de economias atingidas por intermitência em 2010, como pode ser visto na Figura 4.7.
Fonte: SNIS (2010)
FIGURA 4.7:Proporção de economias atingidas por intermitência (paralisações ou interrupções) no abastecimento de água por macrorregião e Brasil, 2010
Além dos aspectos já mencionados, as perdas de água nos sistemas de distribuição constituem-se em importante indicador da eficiência do serviço. A Figura 4.8 mostra a evolução do percentual de perdas nas redes de distribuição de água entre os anos de 2003 a 2010.
Fonte: SNIS (2003 a 2010).
FIGURA 4.8:Evolução do índice de perdas na distribuição de água por macrorregião e Brasil, 2003-2010
Nota-se um decréscimo discreto no percentual nacional a partir de 2004, mas com irregularidades por macrorregião, sendo que as reduções podem ter conquistado esse logro por possíveis investimentos em estudos e pesquisas voltados para a minimização desse problema, além de modificações na operação e manutenção dos sistemas.
[1]Os dados de relação entre oferta e demanda para as sedes municipais estão disponíveis em www.ana.gov.br/atlas.